
Sobre a Rede
Para perguntas plurais, respostas sempre singulares. Uma para cada um, uma a cada vez. Efeito sensível do que uma cidade pode oferecer a seus habitantes ou àqueles que chegam, seja este um estrangeiro ou alguém que retorna do exílio, ou ainda um nativo que chega após uma longa viagem. Para cada um, a cidade tem como desafio mostrar-se única; ao olhar de cada um deles, deve revelar-se outra e ao mesmo tempo, a mesma, fazendo fluir por meio do emaranhado de suas redes, a vida e os sonhos que cada um traz, bem como seus medos e frustrações.Em seus pontos de ancoragem, naquilo que oferece de si, a cidade cria as condições para a invenção dos diferentes mundos que a constituem e a tornam possível como o lugar de habitação do humano. Nem mera arquitetura ou delimitação geográfica. O traçado urbano se desenha e se conforma nos caminhos feitos por seus habitantes, que conduzem uns ao encontro de outros. Mas também pelo arranjo que cada um inventa e tece todos os dias na solidão de suas fantasias ou em empreendimentos coletivos. Invenção humana – a cidade – permite aos homens se inventarem como sujeitos dentro de um contorno que margeia suas existências e inscreve suas histórias.
Desde seu início, em 1993, a Política de Saúde Mental de Belo Horizonte definiu como um de seus objetivos o diálogo com a cidade, formulando estratégias e criando dispositivos capazes de sustentar a presença pública e digna do portador de sofrimento mental. Fazer caber a loucura na cidade tem sido um de seus pontos de orientação que se contrapõe à lógica anterior, a do manicômio, aquela que separa, exclui e condena alguns a viverem fora da cultura. Por meio de arranjos sempre criativos e singulares, confronta a anulação e a homogeneização, inscrevendo a diferença como um direito de cada homem ao mesmo tempo em que integra e participa da construção da saúde como um direito.
O Sistema Único de Saúde, seu pilar, é uma construção ousada, democrática e recente na história da sociedade brasileira. Um direito de cidadania, agenciador de processos que contribuem para a construção de novos modos de viver, de cuidar e se relacionar com o corpo, com o outro e com a cidade. Um processo de transformação que afeta a existência dos sujeitos e altera a geografia do lugar em que estes vivem.